De Espanha, nem bom vento nem bom casamento

… nem bom andamento. Quando os ventos sopram mal para lá das nossas fronteiras terrestres, muito mal e porcamente vão as coisas na ocidental praia lusitana.

Hasteada a bandeira em pompa à nova época, 2024 foi apresentado em circunstância coroado com a subida de categoria da Volta a Portugal Feminina. Mas o fado é incontornável e da triste história não se liberta o povo. É este o nosso estandarte que pinta o destino a escassa verde esperança e privilegia o vermelho do sangue dos Portugueses “perdidos na estrada” e da coragem dos que resistem. Haja coragem para mais uma época de ciclismo feminino em condições cada vez mais miseráveis!

A França central desta comunidade ciclística é o hipocentro de um cataclismo que tem está a dizimar o ciclismo feminino da Península Ibérica. A França de onde emanam as diretrizes da União Ciclista Internacional (UCI) legisla, mas não orienta, decide, mas não monitoriza, e, assim, da teoria à prática, a aplicação da Carta do Senhor Presidente vai aniquilando sonhos, vidas, mulheres e homens.

Posto isto, à data, 16 equipas femininas solicitaram uma das 15 licenças UCI Women’s WorldTour disponíveis para os próximos dois anos e para registo como UCI Women’s WorldTeam para 2024.

Longe destas aspirações estão as equipas portuguesas. À nora com a conjuntura, com a incapacidade de se modernizarem, inaptas em estratégias de comunicação, “velhos do restelo” de uma cultura obsoleta, os clubes ora desaparecem ora definham num amadorismo que envergonha.

Há um mês atrás coloquei o dedo indicador na ferida que o comunicado do Diretor Desportivo da extinta Glassdrive/Chanceplus/Allegro havia aberto. Dizia Bruno Pires que as suas atletas mereciam mais. Dizia e diz e digo eu e quem não o disser e por isso não lutar não só está avesso à ordem natural da evolução como está em rota de colisão com aquilo que dita a UCI e com aquilo que a Real Federação Espanhola já veio exigir às equipas para a corrente época.

E de que falamos? Do básico dos básicos! Abram essas mentalidades porque ninguém pode arriscar a vida todos os dias em treinos na estrada nem pode deixar a carreira profissional em banho-maria à troca de uns calções e um jersey (que há que devolver à equipa no final da época)! Se a ciclismo feminino português é pautado por um avaro diletantismo, aqui ao lado o pelotão vai em velocidade cruzeiro rumo ao justo e correto: rumo à profissionalização. Claro que damos conta de danos colaterais, sendo essa “La paradoja del ciclismo femenino: menguar para crecer!”

Os ganhos a longo prazo podem significar sacrifícios no imediato. Ou seja, a maioria das equipas de “nuestros hermanos” não cumpriu os requisitos impostos pela Real Federação Espanhola de Ciclismo. As esquadras que não proporcionam às corredoras contratos de trabalho, que não têm diretores com máxima titulação da UCI nem estrutura permanente, entre outros requisitos, não se podem apresentar como nem competir no pelotão “continental” (“profissional”).

“Ça coûte les yeux de la tête” (“isso custa os olhos da cara”), como explicou Paco Pla, ex-diretor da Sopela: “Tivemos que pagar o salário mínimo interprofissional mais a segurança social correspondente. São 20.000 euros por ano por ciclista. No nosso caso, a equipa era composta por dez corredores. Além disso, um diretor, um mecânico, uma massagista e um médico tiveram que receber alta. Economicamente era inviável para nós. Isto ia para uns 500 mil euros…” – o que significa quase quintuplicar ou triplicar o orçamento com que se governam algumas equipas atualmente em Espanha (a anos luz da nossa realidade). “Além dos contratos, era necessário ter como estrutura uma autocaravana, uma carrinha e três carros e depois havia as despesas com deslocações”. Consequentemente, Farto BTC, Massi Tactic e Rio Miera Cantábria Deporte passaram de Continentais a amadoras, enquanto a histórica Bizkaia Durango e a Sopela desapareceram. Em maio já a Zaaf tinha fechado portas por incumprimentos salariais. Não é claro em que escalão se inscreveu a Soltec, que contratou a campeã da Volta a Portugal, Valeria Valgonen.

Pergunta que não pode calar: porque raio temos, então, atletas portuguesas emigradas em Espanha?

Como dizia a senhora dos Apanhados: “Eu sei lá, menina! É o cara#!”

Como atleta, consigo apontar um leque de razões para que, mesmo que a troco de ajudas de custo, algumas atletas prefiram estar numa formação espanhola do que numa portuguesa. A primeira é óbvia para quem é leitor assíduo desta rubrica: Espanha tem uma cultura de ciclismo muito mais refinada e apurada do que Portugal. Desta forma, tal como exposto, a Real Federação Espanhola de Ciclismo tem um projeto mais ambicioso e com visão profissionalizante que envolve equipas e organizações; depois, muito importante não só para as próprias atletas, mas sobretudo para (cativar) os patrocinadores: um calendário com muitas mais provas e muito mais competitivo – e eu que vários anos estive na equipa Basca BZK Emakumeen Bira e competi com as World Tour sei bem do que falo; outra razão, a própria estrutura das equipas: ditas “amadoras”, a forma como se organizam, os elementos de staff que recrutam, a forma como orquestram as dinâmicas dentro e fora de prova são réplicas das práticas profissionais; além disto, as condições que propõem às atletas: podem não pagar salários, mas fazem por compensar todas as despesas, todos os investimentos, desgastes e abdicações das atletas em prol do compromisso assumido. O brio! Sim, o ego também fala e há um “estatuto” consentido no pelotão luso às ciclistas que vestem camisolas estrangeiras.

Preto no branco, estamos mais amadoras do que nunca. Em regime de carreira legalmente dito, neste Portugal de mulheres que se dedicam ao ciclismo, as “mais profissionais” são Vera Vilaça (que vai manter-se numa Continental UCI europeia) e Daniela Campos (Eneicat – CMTeam – Seguros Deportivos, mantendo-se em Espanha). Elas, sim, contrariam o adágio e o vento sopra-lhes de feição num bom casamento com o ciclismo mais profissional a que à data uma atleta lusa pode aspirar.

Cela va de soi…

Artigo originalmente escrito para a minha colaboração mensal com o Jornal de Guimarães na Coluna relativa a janeiro ’24.

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