Sempre que um “iluminado” necessita de se justificar nas suas atitudes, cita a frase icónica de Descartes “Penso, logo existo”. O filósofo francês deve de contorcer-se no túmulo desgostoso de tal simplificação. E imagino Caeiro, dois séculos depois na imortalidade, com gozo, a gritar “Pensar é estar doente dos olhos”.
Aqui o heterónimo estará mais contemporâneo: por estes dias parece que “O Mundo não se fez para pensarmos nele” – pelo menos não no verdadeiro sentido Iluminista da filosofia moderna (o que coloca a razão humana como única forma de existência). Porém, esclareça-se que “existir” equivale a “pensar” só (e quando só) se atinge o “verdadeiro conhecimento” fundamentado.
Bolas, logo agora que todo o (pseudo)escritor do Facebook, que verborreia um “conhecimento absoluto, irrefutável e inquestionável”, tinha uma oportunidade para patentear o seu perfil! Até o timing era matematicamente perfeito: de dois em dois séculos um PENSADOR e uma frase a imortalizá-lo! Afinal não era até desses “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando” que o próprio Camões queria fazer parte?!
Duvido! Nunca como agora, duvido! Duvido de tudo! Duvido até da minha existência e do mundo que me rodeia! Não sei se são os anos ou as experiências que me fazem ter as minhas dúvidas nada mais do que certo! Adoro, então, buscar as respostas, fundamentadas! Dialogar e ler!
Tudo o que cabe nas minhas dúvidas passa, então, a existir! Não sou (só) eu que existo por pensar mas todos os conceitos, todas as ideias, todas as construções… Se o penso, logo ele existe! Aquilo em que penso passa a ter existência porque foi por mim concebido – e não necessita de materialização (a matéria é “massa para outra panela”).
Pensa em deus? Em deuses? Ou em Deus? Seja lá qual for aquele em que pensa, então ele existe: tem um momento, um espaço, uma importância dentro de si e do seu tempo. Pensa no mal que aquela pessoa (não) lhe fez? Então esse mal existe. Esse mal existe para si! A sua cabeça criou-o. Por certo até lhe deu gestos, formas,” palavras, atos e omissões”. Por certo esse mal até foi uma culpa partilhada e resultou da acção conjunta de vários. E se eu ou aquele seu amigo lhe disser que esse mal nunca existiu? Que aquele olhar nunca foi reprovador? Que aquela mensagem por responder nunca teve a intenção de lhe causar mal? Será que a noção, o (pré)conceito que tinha criado para si como uma verdade absoluta e irrefutável que pautou a sua conduta deixaria de existir?
Se quer existir, pense! Se quer que (não) exista, (não o) pense! O Mundo foi criado sem que o pensássemos e tudo o que nele existe – tudo o resto são criações da sua cabeça, da nossa cabeça!
Por isso, pense bem naquilo em que está a pensar! Olhe à sua volta e veja o que no mundo existe e o que existe no mundo que está a criar! Sinta! Use a razão contemplativa e contestadora cujo “olhar é nítido como um girassol”.
Não vai querer contrapor-se ao Criador… Ou vai?