Sobre os treinos nos rolos
É preciso um olhar que não seja superficial sobre o tempo que treinador e atleta dedicam às suas práticas; é preciso um juízo mais profundo e empático sobre o grau de compromisso que coloca um atleta, solitário, com watts a cumprir e batimentos a subir, pingando do couro cabeludo às pontas dos dedos dos pés, para compreender que o que os motiva é bem mais forte do que “olha, está a chover! Lá terá de ser!”.
Chega o Inverno e, de uma forma automatizada, associa-se o treino a treino nos rolos. Sem se pensar sobre o assunto, assume-se que o ciclista treina no rolo porque lá fora está a chover. Mas será que é assim, assente numa relação efeito-causa tão básica, que o atleta para nos rolos?
Há muito escrito sobre o treino em rolos em bibliografia digna de reparo e há também treinadores que dão, em artigos modestos mas esclarecedores, a sua visão sobre o tema. Todavia, o que têm os atletas a dizer sobre isto? Generalizando e, por se tratar de uma generalização, posso omitir quem o tenha feito com profundidade, os atletas limitam-se a mostrar umas fotos no rolo brevemente legendados “lá teve de ser”. Porém, será que teve mesmo de ser? O que é que faz com que um treino acabe por ser cumprido no rolo? É escolha do treinador? Do atleta? Há conversões? É indiferente?
Como já disse, quem se quer informar cientificamente pode procurar bibliografia e / ou aconselhar-se com quem domina o tema. No meu caso, tenho o à vontade de questionar o meu treinador e de, juntos, debatermos composições. Assim, o que vou aqui fazer não é mais do que uma partilha individual: a minha experiência.
Quem me segue sabe que volta e meia há uma história minha nas redes sociais a treinar no rolo – diria que pelo menos um por semana. Houve até quem já me escrevesse como que uma “reclamação” denunciando “Tu fazes muitos rolos!”. Não faço nem muito nem pouco senão o estritamente necessário. Se treinar fosse pautado pelo “gosto”, acreditem que rolo é coisa de que abdicava alegremente. Contudo, a mim interessa-me a eficácia e a evolução e não o que vai ser mais fácil. Ou seja, se tenho de fazer um treino de recuperação, para mim, para as minhas características, para o contexto geográfico em que treino, “consideramos” que o rolo é uma boa opção. De resto, evitá-lo-ia o máximo que me permitissem os planos de treino e objetivos. Ou seja, numa semana como a que passou, em que pela primeira vez tive uma gripe, treinar no rolo foi a melhor opção: permitiu não renunciar a 100% ao plano e supervisionar diariamente a performance sem expor o corpo às condições meteorológicas adversas que possivelmente, com treino exterior, só fariam agravar a situação. A juntar a estas duas razões que me podem mandar para os rolos, quem não se lembra de me ver de braço partido a treinar (cross education)? Pois, também numa dessas situações, quer seja Verão ou Inverno, o rolo é a melhor opção – ainda que, pelo menos para mim, para as minhas características físicas, nunca seja a opção mais fácil! Por fim, retomando precisamente o que acabei de dizer: atleta e treinador identificam aspetos que necessitam de trabalho específico e esse pode ter a melhor oportunidade de ser explorado precisamente no treino indoor.
Concluindo, o facilitismo está longe de ser o motivo que leva um atleta a ficar dentro de portas pautado pelas monótonas notas de uma roda a fazer “rrommrrommrroomm”. É preciso um olhar que não seja superficial sobre o tempo que treinador e atleta dedicam às suas práticas; é preciso um juízo mais profundo e empático sobre o grau de compromisso que coloca um atleta, solitário, com watts a cumprir e batimentos a subir, pingando do couro cabeludo às pontas dos dedos dos pés, para compreender que o que os motiva é bem mais forte do que “olha, está a chover! Lá terá de ser!”.
Volto a dizer, esta é uma experiência pessoal e intransmissível. “Talvez com outra genética! Talvez noutro corpo! Talvez noutra era! Talvez eu não tivesse que treinar tanto se eu não fosse quem sou – ou talvez até tivesse que treinar mais (quem sabe).”
Obrigada 🙏
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Bom dia amiga Ilda.
Todo treino requer uma periodização (planejamento, método, metas a curto /médio /longo prazo) para atingir-se um objetivo e poder tirar do atleta o seu melhor. Ocorre que no meio do caminho alguns imprevistos são possíveis, mas também com episódios previamente calculados. O treino nos rolos é uma das situações nem sempre encarado como um paliativo devido ao mal tempo (até o pode ser), mas nada impede ao atleta o tomar como forma /tipo de treino com vistas a resultados específicos. É o mesmo que se esperar de um maratonista que impedido de correr nas pistas tenha que fazer algum tempo de esteira (não necessariamente) pois ele poderá adotar a esteira para treino especifico. Adorei vosso artigo sobre o tema. Rolos como forma e não como paliativo.
Zilmara, amei sua resposta! Muito atenta e informativa! Bem haja! Beijinhos e boas pedaladas!