Dday: o síndrome dos Campeonatos

So, today is “Dday”.

Hoje é “O Dia”, o dia da descompressão, da competição, da animação! Foram meses de trabalho: horas em cima do selim; treinos em rolo, à chuva, nas montanhas, na estrada, em altitude e até, para quem pode, em simuladores; sessões de ginásio, exercícios funcionais, ecléticos, de destreza e toda uma panóplia de atividades que têm um só objetivo: o de tornar o atleta o mais apto, eficaz, excelente para o desafio do “dia D”; foram os planos da nutricionista ajustados, reajustados, reinventados e reinterpretados; as sessões de “coaching” e as reuniões com a psicóloga; a piscina, as caminhadas, as corridas, as análises, as avaliações com o treinador e os planos de treino (definidos, alterados, superados, enganados); foram as pernas ao alto e as noitadas adiadas, os aniversários e outras bodas ausentes; as marcações com o fisioterapeuta, as quedas, as sequelas e os recobros; choro, baba, ranho e uma invisível capa de super-herói à medida que as etapas, até ao dia de hoje, foram bem sucedidas.


So, what day is it, after all?

Hoje é o dia da divina comédia: hão de multiplicar-se exponencialmente os posts, os abraços, os parabéns, as palavras de consolo, os stickers e os gifs depois da peça que hoje, em vários atos, sobe à cena no Centro de Ciclismo do Minho, em Souto Santa Maria (Guimarães). Finalmente, depois de meses de afincada entrega, chegou o dia do Campeonato Nacional de BTT Cross Country Olímpico (XCO). 21 de Julho foi o dia determinado pela Federação Portuguesa de Ciclismo para a realização da prova rainha do calendário de ciclismo de montanha, numa atividade conjunta com a Associação de Ciclismo do Minho e com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães e da União das Freguesias de Souto Santa Maria, Souto São Salvador e Gondomar.

“Dday”, “Queen race”

O Campeonato Nacional tem para os atletas de ciclismo federados uma importância tão hiperbolizada porque, num só dia, numa só corrida, aliás, têm estes a oportunidade única de se sagrarem campeões da modalidade na sua categoria e, a partir deste dia, envergarem a camisola do título até ao Campeonato do próximo ano. Ao longo de toda a época há uma série de provas que são importantes e cabe ao atleta hierarquizá-las de acordo com os seus objetivos, características, interesses, patrocínios, condição económica, física e etária, etc.. Não obstante, certo é que, independentemente da posição que ocupe na pirâmide, o Campeonato há de sempre fazer parte das provas escolhidas – é uma questão de respeito pela modalidade, pelo ciclismo e, sobretudo, pelo próprio atleta e os que compõem a sua equipa. Sabemos todos que, no final daquelas voltas, só um sairá campeão da mesma forma que temos por vero que todos fazemos parte das estrelas que colocaram o espetáculo no ar!


How does the show work?

As provas de BTT XCO desenrolam-se num circuito fechado, tendo os atletas de, conforme o escalão a que pertençam, perfazer o número de voltas determinado pelo colégio de comissários. No caso concreto da pista do Centro de Ciclismo do Minho – Guimarães (Souto Santa Maria), esta integra o primeiro e único circuito permanente de BTT XCO da região norte do País, localizado no Parque Desportivo de Souto Santa Maria, homologado pela Federação Portuguesa de Ciclismo, sendo, por isso, composta por vários tipos de relevo e inclinação, obstáculos naturais e artificiais e zonas técnicas com relativo risco, pondo à prova a destreza e habilidade dos atletas. Sendo que a pista é a mesma para todas as categorias, os atletas competem de acordo com o programa definido: às 9h00 competem cadetes masculinos e femininos; às 10h15, como atleta elite feminina, entro em prova pois estão em pista todas as categorias femininas (exceto cadetes) e juniores masculinos; os veteranos e paraciclistas disputam o título às 12h30; e, por fim, elites e sub-23 masculinos entram em pista pelas 14h30.   

Is that all?

É tudo e é muito. Para muitos é mesmo “tudo”, sobretudo para os escalões mais jovens e para o elite por haver, ainda, um exacerbado peso atribuído a esta prova – à semelhança do que os exames representavam, há umas décadas atrás, para a avaliação e nota final a atribuir ao aluno. Este ano integro uma vez mais a linha de partida das elites femininas. Tem sido assim desde 2008, tendo em 2013 conquistado o meu melhor resultado: medalha de prata. Como disse no parágrafo de introdução, até este dia chegar muitos outros de trabalho intenso, de foco, de abdicação, de alegrias e tristezas foram ultrapassados e isso é, já de si, uma conquista, pelo que todos os atletas merecem reconhecimento por tal! Possivelmente, à hora que o leitor se encontrar com este artigo, eu terei já vivido mais uma campeonato e não posso dizer dos sentimentos que estarei a experimentar; sei, isso sei-o já, que o Campeonato foi mais uma prova do meu calendário e do meu currículo e que no dia 23 já sigo para competir na Colômbia, pelo segundo ano, com Catherine Williamson, a La Leyenda Del Dorado – prova por etapas Special 1 do calendário UCI em que no ano passado conquistei o segundo lugar do pódio com Mayalen Noriega, pela Casa Myzé.

Enjoy the ride

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