As borboletas sempre fizeram parte do dia de teste: uns sentíamo-las na barriga outros ficavam a vê-las esvoaçar à volta da cabeça. Sempre houve dois tipos de alunos: os que sentiam a ansiedade associada ao momento da avaliação e aqueles que “não estavam nem aí”. Eu andava ali, nas asas das borboletas, dentro e fora de mim.
E assim segui pela vida fora, colecionando borboletas!
A avaliação é algo muito complexo: é, simultaneamente, ato, momento, sentimento e atitude de, pelo menos, dois indivíduos. E não deixa de ser interessante entender que “avaliar” é mais do que “testar, examinar, aferir”: avaliar é ensinar e / a aprender.
Assim, não só como aluna nem só como professora, mas como ser humano, assumi e integrei, sem medos, a avaliação como parte de um processo contínuo e partilhado; entendi a pertinência do momento e da atitude e abracei os resultados como linhas de orientação para o caminho a seguir.
Mas o que tem isto a ver com a “Ilda Ciclista” – ou “Ilda Biclas” como, carinhosamente, me chama o PT Eduardo Novais?
Tudo! No Ciclismo é prática corrente com uma certa periodicidade realizarem-se testes aos atletas para aferir o ponto em que está a sua forma. Ao longo da época o atleta terá várias competições e é preciso “fazer render o material” (neste caso, o “desempenho”, a boa forma física do ciclista). Sim, está certo o que está a pensar: o atleta não terá a mesma “pujança”, a mesma força, não debitará os mesmos watts ao longo de toda a época – e isso é intencional.
Assim, conforme a equipa técnica que o acompanhe, a metodologia do treinador, a própria disponibilidade financeira, o atleta sujeita-se a uma “Avaliação”. Compreendeu o leitor, só pela frase anterior, que “A Avaliação” é altamente subjetiva e variável e que não é algo estanque, uniforme e igualitário acessível a todos os atletas – o que os coloca, desde logo, em desigualdade numa mesma linha de partida dado que os resultados obtidos (e que determinam o trabalho de treinos, nutrição, ginásio, hidratação, composição corporal, etc. a por em prática após a sua análise) são possivelmente bastante diferentes.
Ora, a mim encanta-me o tema tanto quanto as borboletas esvoaçam sem que eu chegue a ver o seu bater de asas e as consequências que tal tem no teste de lactato. “Teste de quê?”, consegui ouvir alguns a perguntar. A ver se explico de forma simplificada: nos testes de lactato o atleta será avaliado por patamares de descarga de força, sendo que o lactato é produzido como um subproduto, atingindo um valor em que passa a não ser removido e é prejudicial. O objetivo é, então, encontrar este “momento” e treinar o atleta a remover e utilizar o lactato para conseguir alcançar a performance máxima. Por isso, este momento de avaliação traz informações que permitem ao treinador tomar decisões certas sobre o treino.
Tudo parece muito simples, certo? Mas, então, e as borboletas? Será que, como na escola, tudo se resume a estudar (neste caso, treinar), memorizar (aqui, criar hábitos no organismo) e reproduzir no teste (ou seja, mostrar ao treinador, na avaliação seguinte, depois de obedecer criteriosamente ao plano de treinos, que o corpo agora já debita mais uns watts para aquele lactato)? E o efeito das borboletas? O bater das suas asas não poderá provocar o caos?
A minha experiência vale o que vale e serve apenas para comprovar que a individualidade de cada avaliado, na escola, no desporto, na vida, deve sempre de ser salvaguardada, entendida, estudada e integrada como fator da mais complexa das equações que o é “A Avaliação”! “O fenômeno da sensibilidade em relação a pequenas perturbações nas condições iniciais” é a incógnita de um sistema cuja solução poderá ser determinada?
Obrigada 🙏
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